O
Homem e a Bíblia - Um conto carismático baseado em uma história real
Nascido e criado em
berço católico, de família praticante da fé, viveu assim até a juventude. Ao
começar a trabalhar, abandonou tudo e ingressou no mundo dos prazeres ilusórios
do álcool e da luxúria. Foram 20 anos de degradação espiritual onde a imagem
mental de Deus era uma sombra terrivelmente incômoda e a Santa Virgem Maria
era, apenas, uma doce lembrança de sua juventude.
Um dia, recebeu a notícia
da morte súbita de seu pai. O impacto foi semelhante ao atropelamento por uma
jamanta. Sentiu um rompimento interno, algo se partiu, mas não soube o que.
Depois destes anos
afastado da vivência católica, na missa de sétimo dia, resolveu confessar-se.
Ainda atordoado espiritualmente, não sabia como fazer a confissão. Ao final, o
sacerdote pede para que ele reze o Pai Nosso. Começou e parou no meio. Havia
esquecido a oração.
Na dor do luto começou
a lembrar-se de Deus. Entrava na Igreja e não sabia o que fazer, tudo era
estéril e sem graça.
Certo dia ouviu falar
que na Igreja Católica estavam falando em “línguas”. Isto despertou seu
interesse, pois gostaria de falar, fluentemente, inglês, francês e alemão.
Uma colega de trabalho
convidou-o para ir a um Grupo de Oração onde oravam em “línguas”. Em sua vasta
ignorância imaginou que agora iria falar as línguas que desejava.
Decepção total. Durante
a reunião viu, apenas, uma mulher “louca”, delirando, de olhos fechados, ora
falando, ora cantando alto sons incompreensíveis. Aos poucos, todos
enlouqueceram e começaram a falar e cantar estes sons estranhos. Sentiu-se em
um hospício, no meio de loucos alucinados. Quis correr e sair dali, mas ficou
com vergonha e permaneceu.
Ao final, todos vieram
abraçá-lo, sorrindo, expressando uma alegria contagiante. Mesmo assim, seu
desejo era sair dali, afastar-se daqueles alienados e nunca mais vê-los, apesar
do insistente convite para que voltasse na próxima semana. Assim que pode, saiu
apressado, pensando em nunca mais voltar.
Estranhamente, na
semana seguinte, sem se dar conta, foi o primeiro a chegar. Durante a reunião,
a mulher “louca” começou a falar os mesmos sons incompreensíveis. Desta vez ele
ficou ouvindo atento e lhe ocorreu algo assustador. Começaram a surgir, em sua
mente, números e letras que, aos poucos formaram um letreiro em neon vermelho,
piscando: 1 Cor 2, 9, ... 1 Cor 2, 9 ....
Como aquilo
permanecesse piscando em sua mente pensou que estava enlouquecendo também.
Chamou a colega que estava sentada ao seu lado e lhe disse, baixinho, que iria
embora, pois estavam piscando em sua mente estes números e letras.
Ela o abraçou e disse
não saia, isto é um versículo bíblico. Ele não tinha bíblia e muito menos sabia
o que era versículo. Ela mostrou na Bíblia, ele leu e nada entendeu.
O assunto foi falado
para o grupo, sendo causa de muitos cantos, louvores e agradecimentos a Deus. Ele
continuava sem entender, mas foi inundado de uma grande alegria.
Comprou uma Bíblia e
leu aquele versículo, leu, leu e leu. Começou a gostar daquela nova maneira de
ver as coisas de Deus.
Este Grupo de Oração
era pequeno, entre 10 e 12 pessoas, mas fazia parte de um GO grande que se
reunia em uma Igreja, às segundas-feiras, à tarde e à noite. Passou a
frequentar este Grupo.
Tudo ia bem, mas havia
um grande problema: a BÍBLIA. Não tinha coragem de sair à rua com ela. Queimava
a mão, ardia, incomodava. A solução foi colocá-la dentro de um envelope pardo e
depois, em um saco plástico preto, bem camuflada, para que ninguém percebesse o
que era. Assim foi até fazer o Seminário de Vida no Espírito Santo e receber a
oração para o batismo no Espírito Santo.
Depois disto, percebeu
que andar na rua com a Bíblia tornou-se um prazer, tinha vontade de levá-la bem
alto, acima da cabeça, para que fosse vista por todos. Nunca mais se separou dela.
Parece que, agora, ela é uma extensão de seu corpo, faz parte dele. Todos os
dias lê, estuda e procura entender o que
a leitura lhe diz.
Ler a Bíblia passou a
ser uma ocupação agradável. Era um mundo novo que ia se abrindo,
gradativamente, através da leitura comparada dos sinóticos, das reflexões sobre
o Evangelho de João e da articulação com o Antigo Testamento. Percebeu que há
uma interligação nos textos bíblicos. O Antigo e o Novo Testamentos dialogam
entre si, um prefigurando e o outro realizando a prefiguração. Descobriu que a
Palavra de Deus é uma escola de vida, real e transcendente.
Ao tomar posse das
palavras de vida o Senhor foi mostrando, com suavidade e amor, o quanto já
devia ter crescido na fé, mas era ainda uma criança que se alimentava do leite
espiritual. (Cf. 1 Cor 3, 1-3 e Hb 5, 11-13). Esta percepção lhe deu forças
para prosseguir e a recompensa não demorou a chegar. Encontrou primeiro a face
de Jesus nos Evangelhos, depois a onipresença do Pai que perpassa toda a
Sagrada Escritura e por fim a ação, incontestável, do Espírito Santo, de forma
perene, sustentando a vida e santificando a obra eterna.
A mulher do silêncio
foi a última descoberta. Inicialmente, não se sentiu capaz de compreender como
este silêncio podia falar tão alto. Aquela que avança como a aurora, a Virgem
Maria, atravessa toda a Bíblia, do Gênese ao Apocalipse, expressamente ou
prefigurada, humilde e sublime, berço humano do Altíssimo. Encontrar, de forma
velada, o esplendor de Deus naquela jovem mulher abriu-lhe os olhos espirituais
para a contemplação de um mistério divino, Maria é a Mãe de Deus, por obra do
Espírito Santo e Mãe da humanidade por doação de Jesus.
Ele agradece a Deus por
ter uma Bíblia e encontrar nela o seu alimento. Esta foi a grande mudança que a
sua amada Bíblia realizou em sua vida.
Bendita seja a Palavra
de Deus, para sempre!
***
Autor: Edmundo Pereira Teles.
Rio, 13 de setembro de 2015.
* Sr. Edmundo Pereira Teles é aluno dos Cursos Mariologia e História da Igreja de nosso Instituto - convidado, contribuiu voluntariamente escrevendo para nosso Blog.
**O anonimato do personagem foi mantido, mas a história é real. Se você se identificou com história, deixe Deus agir também na sua!