quarta-feira, 5 de junho de 2013

Por que os bebês da Finlândia dormem em caixas?

Uma política do Instituto de Seguro Social da Finlândia, implantada há quase um século, garantiu a diminuição da mortalidade infantil, a valorização da maternidade e virou uma tradição que marca a transição da vida da mulher com a maternidade, transformou-se como que um rito de passagem unindo gerações de mulheres.
Confira abaixo a tradução livre da matéria originalmente veiculada e de autoria da BBC.
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Durante 75 anos todas  as mulheres grávidas na Finlândia recebem caixas de papelão do Estado. É como um Kit maternidade inicial com roupas para o bebê, roupas de cama, lenços e brinquedos, e por sua vez, a caixa pode ser usada como um bercinho. Muitos argumentam que esta política tem ajudado a que aquele país nórdico seja uma das nações com menor taxa de mortalidade infantil do mundo.

Trata-se de uma tradição que data da década de 30 e busca dar a todas as crianças finlandesas, sem importar sua condição social, um começo de vida equitativo.
  

O pacote de maternidade, um presente do Governo, está disponível a todas que esperam um bebê.
Contém tiptop, sacos de dormir, roupas para o ar livre, produtos para o banho, assim como fraldas e um colchão pequeno.

Com o colchão no fundo, a caixa se converte numa primeira cama do bebê. Muitos bebês tem seu primeiro cochilo dentro da segurança que oferecem as paredes de papelão.

As mães podem escolher entre receber a caixa ou receber em dinheiro (uns 214 dólares), porém 95% optam pela caixa, pois seu valor é muito maior.
Esta tradição nasceu em 1938. No começo era somente para as famílias de baixa renda, algo que mudou em 1949.
“Não só foi oferecido a todas as futuras mamães, mas a nova legislação também incluiu que, para obter a caixa, teriam que visitar aos médicos e uma clínica pública pré-natal antes dos quatro meses de gravidez", conta Heido Liesivesi, que trabalha na Kela, a instituição de seguro social finlandesa.
A caixa dava às mães o que necessitavam para cuidar de seus bebês, mas também ajudava a guiar as mulheres até os braços dos profissionais da saúde do Estado do Bem-estar nascente da Finlândia.


Mudança brusca


Na Finlândia, o índice de mortalidade por nascimentos baixou de mais de 70, a cada 1.000 bebês, para menos de 05.

Nos anos 30, o país nórdico era muito pobre e a mortalidade infantil era alta, com 65 mortes para cada 1.000 nascimentos. Porém esses dados melhoraram rapidamente nas décadas seguintes.

Mika Gissler, um professor do Instituto Nacional da Saúde e Bem-estar em Helsinki, oferece várias razões para isto: a caixa da maternidade e os cuidados pré-natais para todas as mulheres nos anos 40 seguiram nos 60, um sistema de seguro social nacional e uma rede de hospitais centralizada.
Com 75 anos, a caixa está agora institucionalizada na Finlândia como a transição para a maternidade, algo que une várias gerações de mulheres.
Reija Klemetti, de 49 anos, vive em Helsinki. Recorda ir ao posto dos correios e recolher a caixa de um de seus seis filhos.
“Era emocionante recebê-la e, de alguma forma, era a primeira promessa de bebê. Minha mãe, meus amigos e meus familiares estavam animados para ver que tipo de coisas receberia e que cores haviam escolhido para esse ano”.
Sua sogra, de 78 anos, contou em grande medida com a caixa quando teve o primeiro de seus quatro filhos nos anos 60. Nesse ponto, tinha pouca ideia do que poderia necessitar.



A caixa atualmente

·         Colchão, capa de colchão, colcha, cobertor, saco / acolchoado para dormir.
·         A mesma caixa funciona como um berço.
·         Roupa para a neve, gorro, luvas e botas isoladas termicamente.
·         Agasalhos leve e tiptops.
·         Meias, luvas,chapéu, g orros de malha.
·         Tiptops e roupinhas de diferentes cores e estampas unissex.
·         Toalha de banho com capuz, tesourinhas para unhas, escova de cabelo, escova de dente, termômetro de banho,  pomada contra assaduras, esponja para banho.
·         Fraldas de pano e panos de limpeza para o bebê.
·         Livro de fotos e mordedores para a dentição.
·         Protetores para o seio para amamentação e preservativos.


Mais recentemente, a filha de Klemetti, Solja, compartilhou com 23 anos a emoção que sua mãe sentiu uma vez, quando se fez possuidora da “primeira coisa substancial”, inclusive antes que o bebê. Agora tem dois filhos.
“É fácil saber em que ano nasceram os bebês, porque cada ano muda um pouco a roupa que vem. Não há problema em comparar e pensar ‘esse bebê nasceu no mesmo ano que o meu’”, disse Titta Vayrynen, uma mãe de 35 anos que tem dois filhos.

As mais felizes”
Algumas famílias não poderiam custear o conteúdo da caixa se não fosse gratuito, apesar de que para Vayrynen foi mais  do que uma questão de economizar dinheiro. Ela trabalhava muitas horas quando ficou grávida de seu primeiro filho e agradeceu não ter que buscar tempo para sair às compras e comparar preços.
“Houve uma recente notícia em que se assegura que as mães finlandesas são as mais felizes do mundo, e a caixa é uma das coisas que me vêm à mente. Nos cuidam muito bem, inclusive agora que alguns serviços públicos têm sido cortados”, completa Varrynen.
Quando teve a seu segundo filho, Ilmari, ela optou pelo dinheiro em espécie no lugar da caixa e simplesmente voltou a usar tudo o que tinham dado para o seu primogênito Aarni.

Um menino pode também passar a roupa para uma menina e vice-versa, pois as cores são deliberadamente neutras.
O conteúdo de cada caixa tem mudado bastante com o passar dos anos.
Durante as décadas de 30 e 40 tinham tecidos, porque as mães estavam acostumadas a confeccionar as roupas dos bebês.
Porém durante a Segunda Guerra Mundial, o algodão e os tecidos eram requeridos pelo Ministério da Defesa, assim que as caixas tiveram fraldas e um envolvedor de cobertor de papel.




História de uma caixa



1938: dois terços das mulheres que deram a luz esse ano foram candidatas ao subsídio em dinheiro, a caixa de maternidade ou uma mescla dos dois. Desde o princípio o pacote podia ser usado como um berço nos lugares mais pobres, onde as condições higiênicas não eram as mais apropriadas para o bebê.

1940: apesar da escassez em tempos de guerra, o programa continuou quando muitos finlandeses perderam suas casas nos bombardeios e evacuações.

1942-1946: o papel substituiu os tecidos em artigos como fraldas e envolvedores de cobertor para a mãe.

1949: o pacote passa a ser oferecido a todas as mães na Finlândia, sempre e quando fizerem controle de saúde pré-natal (o pacote da foto acima é de 1953).
1957: os tecidos e material para costurar foram substituídos por roupas já confeccionadas.
1969: fraldas descartáveis foram adicionadas ao pacote.
1970: com mais mulheres trabalhando, as roupas brancas forem substituídas por roupas de algodão elásticas e fáceis de lavar.
2006: se reintroduziram as fraldas e se retirou a mamadeira para incentivar a amamentação materna.

Nos anos 50 houve um incremento de roupas industrializadas, e nos 60 e 70 a indumentária incorporou novos tecidos elásticos.

Nenhuma mamadeira ou descartáveis


O saco de dormir apareceu em 1968, e no ano seguinte houve fraldas descartáveis pela primeira vez. Porém não por muito tempo.
Com a chegada do novo ciclo, retiraram as fraldas descartáveis e voltaram às de tecido, cumprindo com alinhamentos de proteção ao meio ambiente.
Motivar uma boa maternidade e paternidade sempre tem sido parte da política da caixa.
“Os bebês costumavam dormir na mesma cama que seus pais e se recomendou deixar de fazer”, explica Panu Pulma, professor de história finlandesa e nórdica na Universidade de Helsink. “Incluir a caixa como berço significou que as pessoas começaram a deixar que seus bebês dormissem a parte”.
Em determinado momento, as garrafas (mamadeiras e chuquinhas) e as chupetas foram retirados para promover a amamentação materna. “Um dos principais objetivos de todo o sistema tem sido alcançar que as mulheres deem mais o peito”, disse Pulma, que acrescenta que “tem funcionado”. O especialista também pensa que incluir livros de contos ilustrados tem tido um efeito positivo, pois motiva aos bebês manipularem livros e, um dia, a lê-los.
Adamais de tudo isto, Pulma assegura que esta caixa é um símbolo.

Um símbolo da ideia de igualdade e da importância dos bebês.

Tradução livre

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